terça-feira, 25 de setembro de 2007

Entrevista: Luiz Carlos Azenha

Luiz Carlos Azenha tem mais de 30 anos de vida jornalística. Em 1985 ingressou sua carreira na extinta Rede Manchete nos Estados Unidos. Anos depois, mudou-se para o SBT onde cobria as corridas de Fórmula Indy. E, finalmente, pela Rede Globo, se tornou correspondente internacional, passando por mais de 40 países, cobrindo fatos que marcaram o milênio. Atualmente, envolveu-se em mais um projeto: a criação do blogue “Vi o mundo”, em que publica notícias, relatos de aventuras, reportagens e vídeos. O subtítulo do blog, “O que você nunca pôde ver na TV”, explica o conteúdo do site: aprofundar fatos cotidianos que a TV não nos mostra por falta de tempo. Em entrevista concedida por e-mail, Azenha aborda a importância do blogue, bem como a relação internet e jornalismo.

Pergunta: Qual critério é adotado para decidir o que deve ser publicado no site?
Luiz Azenha: O critério fundamental é não ter saído na grande mídia. Fiquei surpreso ao notar quanto assuntos não saem na grande mídia. O segundo critério é o de oferecer uma visão alternativa sobre assuntos publicados. E o terceiro é o de opinar livremente, sem passar por um editor, ainda que eu corra o risco de publicar besteira.

Pergunta: Como surgiu a idéia de criação do site?
Luiz Azenha: A idéia surgiu em Nova York, em 2003, por sugestão de amigos, quando notei que nem tudo o que eu recolhia de material para minhas reportagens de TV ia ao ar, acima de tudo por limitação de tempo. Aí resolvi contar as histórias num site.

Pergunta: Qual é seu principal objetivo com o site?
Luiza Azenha: O objetivo é escrever. Gosto de escrever.

Pergunta: Como você organiza seu tempo entre o trabalho e o site?
Luiz Azenha: O site é trabalho. Dona-de-casa trabalha?

Pergunta: Quais são suas fontes de pesquisa para inspirá-lo nas publicações?
Luiza Azenha: Essencialmente a internet. Tem muita informação de primeiríssima qualidade na internet que fica lá, esperando para ser descoberta. A partir da internet eu leio livros e descubro possíveis entrevistados. E gravo vídeos que vão para a TV Viomundo.

Pergunta: Qual é a relação entre jornalismo e internet atualmente?
Luiza Azenha: Eu faço Jornalismo na internet. É uma forma muito particular de Jornalismo, em que a única regra é não publicar ofensas pessoais a terceiros. Acho que, ao longo da minha carreira, fiquei muito confinado a um jeito padrão de mídia. Ou seja, agora é mais uma viagem pessoal do que qualquer outro coisa.

Resenha: "O último jornalista"

“O Último Jornalista” de Stella Senra, destaca como vem sendo construída a imagem do profissional de imprensa ao longo dos anos e a figura do jornalista na sociedade contemporânea.
O texto discute a relação existente entre o cinema e as profissões. Enfatizando a freqüência com que se dedicam filmes à imprensa, tentando dessa forma saciar a curiosidade da sociedade pelo jornalismo, já que o jornalista é um figura pública e sua exposição é o primeiro requisito do exercício da profissão.
A identidade profissional do jornalista é dita historicamente ambígua pela autora e sua imagem provém daquilo que faz em seu dia-a-dia, ou seja, depende do seu cotidiano, das notícias que passa para a sociedade e a maneira como opina sobre elas. Por isso, na maioria das vezes, criam-se personagens, imagens que não são reais.
Tendo isso em vista, o crítico de cinema e televisão Serge Daney sugeriu uma “faxina no mundo das imagens, uma ‘limpeza’ que implicaria, em alguns casos, até na eliminação da figura humana das telas de televisão”. A sociedade contemporânea impõe sobre os jornalistas padrões a serem seguidos, para que se tornem dignos de nossas confianças. Para Senra, a “adoção da figura do clone não implica no desprezo pelo jornalista ‘de verdade’, mas antes pretende que não se tome mais o mundo das imagens como o oposto do mundo real”.
É claro que essa submissão do jornalista a sua imagem é mais facilmente notada na televisão. Porém, cada vez mais, o nome, tanto quanto a imagem do jornalista, vem competindo com a notícia e o peso dos fatos. Hoje, há uma tendência, no jornalismo contemporâneo, de “espetacularização generalizada” que envolve grande parte dos profissionais que enxergam na televisão, uma oportunidade de se tornar conhecido, deixando em segundo plano, o essencial: a notícia.
A imprensa brasileira sofreu grandes transformações ao longo dos anos. O pós- guerra representou o período em que o jornalismo praticado no Brasil se distanciou da inspiração político-literária e passou a incorporar o modelo americano com sua adesão aos fatos, seu conceito de objetividade e suas técnicas de tratamento da notícia.
Nos anos 50, os proprietários da empresa jornalística e responsáveis pela totalidade do processe de fabricação do jornal eram geralmente jornalistas. Ou seja, o envolvimento desses profissionais com todo o processo de fabricação da notícia, bem como sua repercussão, deu origem a figura romântica do jornalista. Para Paulo Francis, o jornalismo da década de 50 tinha algo agora “em extinção: personalidades fortes, opinionadas, uma tradição humanista e generalizada que hoje desapareceu”.
Nos anos 60 e 70, o jornalismo foi exercido em um novo contexto político, sob um regime ditatorial e forte censura da imprensa. Nessa época, vale ressaltar os esforços de alguns profissionais que lutaram em defesa da liberdade no exercício de sua atividade.
Já nos anos 80, a imagem do jornalista começa a mudar. A situação política do país se modifica com o fim da censura, e o capitalismo começa a interferir na empresas jornalísticas e nas atividades de seus profissionais. Houve grandes avanços tecnológicos, remodelando o processo de produção da notícia. Foi também nessa época que surgiu a televisão, concorrendo fortemente com a prática do jornalismo escrito.
A partir de então, há outra compreensão dessa atividade. O jornalismo deixa de ser entendido com uma missão em que aqueles mesmos que o praticavam, eram engajados político e socialmente e acabou sendo substituído por uma empresa, uma “cadeia de produção, contemplada com tarefas fragmentadas e em parte já desenraizadas da chamada realidade”, como diz a autora. Tornando assim, o jornalista perfeitamente substituível.
Ainda nos anos 80, o jornalismo pode ser visto de três maneiras: como serviço público, como uma técnica ou como uma arte. Como serviço público, considera o leitor como cidadão e usuário, enquanto o jornalista é tomado como profissional liberal, responsável pela totalidade do trabalho de produção da notícia. Como técnica, o leitor é apresentado como um alvo e a atividade do jornalista, tomado como técnico do processo de comunicação, tem mais ênfase no tratamento do que na produção da informação. E como arte, o leitor é visto como ‘público’, platéia de um desempenho, enquanto a informação passa a oferecer também um aspecto estético.
No contexto prático dos anos 90, o jornalismo é exercido de uma forma cada vez mais particular. A relação entre mercado, papel político do jornalista e inovação técnica são cada vez maiores.
Assim, podemos entender que é clara a relação entre cinema e jornalismo, mas que vem se perdendo com o passar dos anos. Tanto um como o outro visam retratar a realidade ao público e a sociedade, a diferença é que a partir dos anos 80, quando o capitalismo surge com força, os profissionais da área tendem a criar personagens que apenas transmitam as notícias, visando apenas o lucro, o reconhecimento, sem nenhum engajamento, o que os torna apenas imagens, facilmente confundidas e talvez substituídas por robôs.