quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Resenha: "Sempre Alerta"

O texto retrata a rotina do jornalista, caracterizando seu ambiente de trabalho, as tensões diárias e a hierarquia existente nos jornais, no caso, no jornalismo impresso.
Sempre Alerta discute a essência da profissão, classificada por Jorge C. Ribeiro como moderna empresa de notícias, onde um dos elementos mais característicos é o poder que se exerce sobre os jornalistas. Quem concentra a maior parcela desse poder é o empresário, que consciente disso o usa a seu favor constantemente.
Jorge C. Ribeiro defende em seu livro a submissão do jornalista.Acredita que para uma redação funcionar da melhor maneira, é necessário que interesses de ambas as partes estejam em jogo. Para isso, expõe dois pontos fundamentais.
Para estimular os jornalistas, o aliciamento é a prioridade. As promessas são a forma de aliciamento mais freqüentes. Cria-se uma situação de interesses e subordinação, já que recém formados, facilmente se iludem com altos salários e sistemas de privilégio oferecidos por algumas empresas. A questão é que na maioria das vezes, se evidencia o desnível dentro da redação de uma empresa , e percebe-se que somente aqueles que realmente se destacam, que são bem sucedidos têm essas promessas realizadas. A conseqüência disso a longo prazo é a perca do estímulo dos outros profissionais que não mais, se sentem capazes de realizar seu trabalho. As demissões reforçam o aliciamento. Para Jorge C. Ribeiro, “um dos efeitos mais importantes das demissões é provocar tensão produtiva nos que não foram atingidos”. E deixar subentendido que ninguém é insubstituível.
Na maioria das vezes, encontra-se nas mãos do editor o sucesso ou fracasso de seus submetidos. Por isso, “repórteres e redatores procuram direcionar seus textos de acordo com o enfoque dos editores”, como ressalva Jorge C. Ribeiro. O que resulta dessa disputa entre jornalistas pela aprovação de seu editor, é uma forte competitividade entre eles. Cria-se então, uma troca de favores e forma-se um subgrupo, onde para obter êxito o editor necessita de um bom trabalho de sua equipe e aqueles que para ele trabalham, necessitam que o resultado seja satisfatório para que sejam reconhecidos.
O outro ponto fundamental apontado por Jorge C. Ribeiro é coerção. Para ele “é necessário complementar o aliciamento com um regime de coerção, para obter a subordinação do jornalista”. Acredita que “a coerção articula disciplina, anonimato, tensão ‘produtiva’ e sanções”. O resultado do aliciamento juntamente com a coerção é uma “profissão autoritária”, como articula Jorge C. Ribeiro.
A coerção é um modo de repressão que pode ajudar na formação do jornalista tornando-o disciplinado, já que a disciplina é uma das principais características das empresas capitalistas de hoje.
Uma das características principais da atividade do jornalista é a tensão, fabricada como o objetivo de extrair produtividade. A pessoa que acumula diversas tarefas a serem cumpridas, esforça-se para que todas sejam satisfatoriamente concluídas, enquanto aqueles que não são tão atarefados, executam suas obrigações de qualquer jeito. “O sujeito tenso produz mais porque fica mais atento”, confirma Bem Bradley.
O jornalista vive num ambiente sob forte tensão e pressão. É necessário que esteja sempre alerta, para que possa responder com agilidade aos imprevistos que as notícias exigem. O ritmo do trabalho oscila entre momentos de marasmo e aceleração e a periodicidade contribui para tornar produtiva a tensão. Por isso, para que se consiga criar uma marca, ter um nome reconhecido, é necessário um esforço constante.
Jorge Cláudio Ribeiro caracteriza o jornal como uma empresa de notícias com um duplo discurso. Esse duplo discurso toma dois rumos ambivalentes: o primeiro caracterizado como tradicional e ideológico, suas principais características se dão por apresentar-se cultural, liberal, confiante, missionário, heróico e fazer uso de uma imagem pública. O segundo caracteriza-se como industrial, disciplinador, competente, trabalhador, operário e anônimo. É ao mesmo tempo uma empresa, visando lucro, mas prestando serviço público (não deveria ser comercializável), seus profissionais deveriam permanecer anônimos e disciplinados, mas apresentam-se também como imagens públicas, entre outros caminhos ambivalentes.
Sempre Alerta, de Jorge Claudio Ribeiro nos traz uma boa noção da vida de um jornalista. Nos mostra os prós e contras de uma profissão que desperta tão diferentes opiniões e pontos de vista. Mas que tem em comum, a paixão pela profissão.